19 de abr. de 2007

Energia renovável em processo sujo


Nós, da Comissão Pastoral da Terra/MS, temos acompanhado com grande preocupação a expansão da indústria canavieria no Mato Grosso do Sul, estimulada pelos governos federal e estadual.
No Brasil, historicamente a indústra da cana se baseou na ocupação de grandes extensões de terra e na super exploração do trabalho. Este modelo colonial é resumido pelos estudiosos em latifúndio/escravidão/monocultura/exportação (as famosas plantations!) .
Na chamada “Era Moderna” a indústria da cana começa a se instalar no Mato Grosso do Sul a partir dos anos de 1970, com a criação do Proálcool. No final dos anos de 1980 até a presente data, a indústria canavieira passa a ser manchete nos jornais em vista também das denúncias de trabalho escravo e de superexploração dos trabalhadores indígenas e não-indígenas. No mês de março último a Delegacia Regional do Trabalho/MS fechou a indústria de Iguatemi e obrigou a usina a fazer acerto de contas de 409 trabalhadores, dos quais 150 indígenas, que se encontravam em situação degradante. No estado de São Paulo foi confirmada a 18ª morte de trabalhador da cana por exaustão em pouco mais de um ano.
Em contrapartida há uma psicose mundial e nacional quanto à produção de biocombustíveis, ou seja, de energia renovável. Esta paranóia contaminou o nosso Estado agravada pelo estímulo que o Governo Estadual oferece às mais de 30 indústrias que nesta terra querem se instalar, o que significa que as terras ocupadas com o plantio de cana saltarão dos aproximadamente 150 mil hectares para mais de 800 mil hectares até 2009, explorando aproximadamente 40 mil trabalhadores.
No sentido de fazer o contraponto a esta política do agronegócio da cana, baseada na ideologia da energia renovável que é míope porque não considera que no outro extremo do processo, onde estão os trabalhadores e o meio ambiente, ela não tem nada de limpa, é suja porque superexplora os trabalhadores e envenena o ambiente, a Comissão Pastoral da Terra afirma:
o agronegócio da cana gera degradações ambientas, maior concentração fundiária e super exploração da mão- de- obra, levando trabalhadores a morte por exaustão;
coloca em risco as demarcações das terras indígenas e de comunidades tradicionais;
afronta a soberania alimentar estimulando a utilização de terras de assentamentos da reforma agrária e de pequenos agricultores para produzir biocombustíveis;
estimula a ocupação do território brasileiro por empresas estrangeiras, tornando vulnerável a soberania nacional.

Em vista disso assumimos publicamente como nosso o compromisso assumido pelos participantes do seminário sobre a expansão da indústria da cana na América Latina de:

“denunciar e combater o modelo agrícola baseado no monocultivo, concentrador de terra e renda, destruidor do meio ambiente, responsável pelo trabalho escravo e a superexploração da mão de obra. Fortalecer as organizações de trabalhadores rurais, assalariados e camponeses para construir um novo modelo alicerçado na agricultura camponesa e na agroecologia, com produção diversificada, priorizando o consumo interno”.

SOMOS FAVORÁVEIS EM PRODUZIR ENERGIA RENOVÁVEL, MAS NUM PROCESSO LIMPO!

COORDENAÇÃO COLEGIADA
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA/MS

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