3 de mar. de 2007

Ressuscitamos na luta


Brasil - Lutar por direitos é defender a vida!

"Nem o tempo, amigo,
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar...
Quem perdeu o trem
Da história por querer,
Saiu do juízo sem saber...
Foi mais um covarde
A se esconder, oh!
Minha estrela amiga,
Porque você não fez a
Bala parar...?"

A Pastoral Operária em nível nacional iniciou em 1º de maio, uma jornada de luta de um ano.
Ela terá como sintonia o eixo articulador Uma Nova Cultura do Trabalho e realizará várias atividades conjuntamente com as dioceses do Brasil. Uma dessas atividades será no dia 30 de outubro de 2004, em que estaremos celebrando os 25 anos do martírio do operário Santo Dias da Silva.

Santo foi assassinado em frente a Fábrica SYLVANIA, numa tarde de 1979. Para todos/as aqueles/as que lutam de forma incondicional em defesa da vida, Santo representa toda a mística e o compromisso para com o sofrimento dos/as trabalhadores/as urbanos.

Neste momento histórico da atualidade brasileira, ao celebrarmos a memória do companheiro Santo Dias, possibilitará também, desafiar o conjunto das organizações dos/as trabalhadores/as a refletir sobre suas estratégias de ações na conjuntura atual, a partir de três aspectos fundamentais da militância de Santo Dias e do período em que foi assassinado:

1. Santo foi assassinado porque estava defendendo os direitos e melhores condições de trabalho.

2. Santo Dias não trabalhava na fábrica SYLVANIA, mas naquela tarde de 1979, movido pela paixão e o amor à luta e principalmente pela solidariedade classista, estava lá, o operário, estava lá presente até as últimas conseqüências doando a própria vida.

3. Em 1979, quando Santo foi assassinado, o sindicalismo brasileiro estava ressurgindo, com avanços e vitórias, apesar das perseguições e ausências de democracia, em plena ditadura militar, um novo sindicalismo começava a retomar o seu caminho.

Na conjuntura nacional, diante da crise, a classe dominante tenta de todas as formas recuperar suas margens de lucro. Para isso, buscam retornar ao início do capitalismo em que os patrões faziam o que queriam com os/as trabalhadores/as, a exemplo da reforma sindical e trabalhista, que estará tramitando no Congresso Nacional no próximo ano. Essas reformas têm como objetivo central, flexibilizar os direitos trabalhistas, esvaziar e enfraquecer os sindicatos como interlocutores na relação capital e trabalho.

A exemplo de Santo Dias, as organizações dos/as trabalhadores/as precisam estar preparadas para o enfrentamento destes desafios com uma nova pedagogia das lutas. O movimento sindical e as centrais sindicais precisam sair do imobilismo e da burocratização. Entender que a grande maioria dos/as trabalhadores/as estão fora das fábricas e vivem aguçando o seu sofrimento nos bairros da periferia. Assim como Santo foi presença ativa, o movimento sindical também precisa estar inserido nessa nova civilização de trabalhadores/as, para acolher, escutar e criar espaços em que os mesmos possam também interpretar a realidade e serem protagonistas. O movimento sindical precisa tomar consciência dessa nova realidade ou correrá o risco de se tornar desnecessário para a história.

Outro aspecto, Santo não viveu suficiente para ver o partido dos/as trabalhadores/as, mas se estivesse vivo, com certeza estaria bastante triste com a dinâmica de ação do partido, que vive preso ao calendário eleitoral deixando as lutas populares dispersas e sem nenhuma perspectiva política, resumindo a democracia meramente pelo simples fato das pessoas participarem de um processo eleitoral. Assim como Santo Dias que foi até as últimas conseqüências na luta pela democracia em plena ditadura, os partidos também precisam radicalizar a democracia, afinal, em pleno desenvolvimento técnico científico com imensa produção de bens socialmente produzidos na sociedade, pensar a democracia nessa realidade é possibilitar também que as pessoas possam participar e usufruir desta riqueza. Para isso, será necessário uma nova reengenharia partidária com uma nova cultura política.

Por último, Santo Dias movido pela solidariedade, sempre estava presente na luta. A solidariedade é um valor fundamental, porém, cada vez mais é distanciada do cotidiano das organizações dos/as trabalhadores/as que se fecham e departamentalizam suas ações e não se dão conta que perder a solidariedade é perder o rumo da história, afinal, a solidariedade é um valor fundamental na vida de homens e mulheres que assumem o compromisso de estar presente na dor e no sofrimento do povo.

A Pastoral Operária Nacional, nesta jornada de um ano, ao lembrar a militância de Santo Dias da Silva, em que completa seus 25 anos de martírio, quer convocar homens e mulheres da PO das Dioceses do Brasil, para termos ousadia no enfrentamento da realidade brasileira, desenferrujar as nossas ações, fugir da mesmice, oxigenar as mentes e apaixonar os corações da militância, resgatar o trabalho de base e construir novos caminhos.

Onde está Santo Dias?

À pergunta que merece profunda reflexão, ousamos responder que o exemplo e a presença de Santo Dias da Silva estão por todos os cantos do Brasil, simbolizado nas mais diversas homenagens, nos locais que abrigam lutas e serviços aos trabalhadores e trabalhadoras:

- A nossa Pastoral Operária do Brasil é o Instituto Nacional Santo Dias.

- A PO Estadual de Minas Gerais é o Instituto Estadual Santo Dias. Em Uberlância/MG, está a Farmacinha de remédios naturais Santo Dias e, numa atitude bem ousada, há uma comunidade de Paróquia em Ipatinga/MG que tem como padroeiro, Santo Dias.

- Em Fortaleza/CE temos a Associação Santo Dias e a Praça Santo Dias

- Em Curitiba/PR, existe o Centro de Formação Santo Dias.

- Em Campina Grande/PB ocorre a grande romaria para Santo Dias.

- Em São Paulo, encontramos Santo Dias em caminhadas e celebrações. Tem o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, a comunidade Santo Dias e a Creche Santo Dias (Jardim Ângela), o Centro de Referência do Idoso Santo Dias e a Praça Santo Dias (Vila Remo), o Parque Municipal Santo Dias (Cohab Adventista), a Escola Municipal Santo Dias (Cidade Dutra), o Conjunto Habitacional Santo Dias (Campinas) e o Comitê Santo Dias.

- Em muitos outros lugares encontramos Santo Dias. Mais que em todas estas instituições, Santo Dias da Silva está presente na esperança dos romeiros trabalhadores, na perseverança dos excluídos que gritam e na animação dos que refletem a fé e a política. Na coragem dos que lutam por direitos e na confiança de quem constrói a sociedade nova.

- Está presente na figura de seus filhos e netos. Está gravado na presença simpática de Ana Dias, sua companheira por vários anos.

- Ele está em nossa memória e construindo conosco, a história.

Santo Dias está conosco todos os dias!

Manoel Rodrigues Júnior, Coordenador Nacional da Pastoral Operária.

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