27 de fev. de 2007

Agenda para o desenvolvimento social


Na campanha eleitoral de 2002, Lula instituiu o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) integrado por empresários, dirigentes sindicais e personalidades da sociedade civil. Instalado o novo governo, foi criada a Secretaria Especial do CDES, diretamente vinculada à Presidência de República, com status de ministério. Coordenada em 2003 pelo ministro Tarso Genro, hoje tem à sua frente o ministro Jaques Wagner.

O CDES, que se reúne periodicamente em Brasília, conta com um Grupo de Trabalho de Fundamentos Estratégicos, que colabora na produção dos resultados do projeto "Brasil em Três Tempos". Seu objetivo é visualizar como será o nosso país em 2007, quando se inicia o próximo governo; em 2015, quando o Brasil deverá ter cumprido as Metas do Milênio propostas pela ONU; e em 2022, quando completaremos 200 anos de nossa Independência.

Pesquisa efetuada este ano entre os membros do CDES, a maioria empresários, revelou o Brasil que eles querem. O objetivo é obter consenso quanto aos fundamentos e as diretrizes de uma Agenda Nacional de Desenvolvimento. A imagem ideal é de um país que tenha sanado as carências básicas da economia e da sociedade brasileiras.

Quais são, na opinião dessas lideranças de nossa sociedade, os maiores problemas a serem enfrentados? Os principais são a concentração de renda, a desigualdade social, a pobreza e a miséria, somadas às deficiências de educação. É interessante constatar, primeiro, que não figura entre eles a falta de investimento externo ou o baixo índice de nossas exportações.

De certo modo, as prioridades estão todas enfeixadas numa única: redução da desigualdade social através de melhor distribuição da renda. O que teria impacto imediato no refluxo da miséria e da pobreza e, por sua vez, no desemprego e na estagnação econômica, apontados em segundo lugar e secundados pelas dívidas interna e externa e a dependência do capital estrangeiro.

Como combater esses problemas e alcançar os objetivos propostos? O CDES acredita que, entre as potencialidades favoráveis ao desenvolvimento socioeconômico do Brasil figuram, pela ordem: os recursos naturais, o turismo, a biodiversidade e o agronegócio, seguidos da criatividade de nosso povo e de sua diversidade cultural e étnica, bem como a geração de ciência e tecnologia em centros de pesquisas e universidades.

O Brasil acredita no Brasil. O que nos falta é uma agenda que defina a estratégia de desenvolvimento a ser monitorada pelo governo, porém assumida pelo conjunto da sociedade. Para chegar a ela é preciso abrir um amplo debate em que todos os atores sociais tenham voz e vez. Não se trata de tirá-la da cartola de um grupo de conselheiros. A meta é, no debate com eles e com outros setores da sociedade, criar as condições para que a nação possa pensar o país e encontrar soluções que nos arranquem do subdesenvolvimento, da injustiça, da violência e da dependência externa.

Há que ser realista. Somos uma nação desigual, eivada de preconceitos, com uma elite desacostumada ao diálogo, um grande contingente da população sem suficiente educação e informação, e um Estado desprovido de recursos para bancar, por si só, o crescimento econômico e o desenvolvimento social.

Há, por outro lado, aspectos positivos. Não fomos devastados por guerras, não estamos cindidos em ideologias antagônicas, não contamos com movimentos separatistas, nossa economia não se encontra mergulhada no caos e a sociedade, malgrado a miséria e a violência, não está desagregada em seus valores e ainda acredita que a saída se encontra em medidas institucionais.

Se o Governo Federal estivesse convencido de que só ele conhece o caminho das pedras, restando à sociedade seguir as vias que ele aponta, esse debate não estaria sendo proposto. Se o faz é porque tem consciência de que o Brasil do futuro tem que ser obra de todos os brasileiros(as). Mas para isso é preciso detectar os problemas e suas causas, estabelecer uma agenda de como enfrentá-los, convocar todas as forças sociais e levantar quais os recursos de que dispomos para alcançar os objetivos almejados.

Qual o Brasil que nós queremos? Eis o tema que deve ser intensamente debatido por todos os setores de nossa sociedade: sindicatos e Igrejas, ONGs e escolas, empresas e centros de pesquisa, grupos artísticos e equipes de esporte, trabalhadores, donas de casa, profissionais liberais e empregadores. Esse é o caminho para que, em 2022, a nossa Independência seja menos retórica e mais real.

* Frei Betto, dominicano. Escritor.

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