15 de mai. de 2007

Papa reafirma opção preferencial pelos pobres

"A opção pelos pobres está implícita na fé cristã naquela em que Deus se fez pobre por nós, para que nós enriquecêssemos com sua pobreza", disse o Papa aos bispos da América Latina e do Caribe. A afirmação não veio no parágrafo destinado aos problemas sociais do continente, ma sim naquele que trata da primazia da fé em Cristo. Dessa forma, ele não só respaldou o caminho da Igreja na América Latina, como também lhe conferiu o status teológico correspondente.
O discurso é de uma enorme riqueza e transcendência. Não encontramos palavras de condenação à reflexão teológica do continente, esperada por alguns, mas sim uma sólida reflexão e um chamado a responder aos desafios atuais a fé na América Latina, que são dois: "o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica de seus povos".
Dando continuidade as cinco conferências, Bento XVI constata que desde São Domingo, em 1992, muitas coisas mudaram: a globalização, em certos aspectos positiva, mas com o risco dos grandes monopólios e da conversão do lucro no valor supremo;"a evolução em direção à democracia e o perigo do autoritarismo, a economia liberal que causa que "sigam aumentando os setores sociais que se vêem postos à prova cada vez mais a uma enorme pobreza ou mesmo perdendo seus bens naturais". Também se refere à situação da fé mais madura em muitos leigos, mas debilitada na sociedade. Tudo isto exige "uma renovação e uma revitalização" da fé em Cristo para "viver de maneira responsável e alegre de fé e irradia-la ao próprio ambiente.
O trecho seguinte do discurso está dedicado à fé em Cristo, que não é "uma fuga em direção ao intimismo, ao individualismo religioso", já que todos os sistemas religiosos que colocam Deus isolado fracassam na solução dos problemas sociais, políticos e econômicos. Por meio te suas palavras sobre a opção pelos pobres, o Papa trata de como conhecer Cristo: a resposta é a "rocha da Palavra de Deus", e a catequese, que deve intensificar-se, que compreende também uma "catequese social" que forme a doutrina social da Igreja. "É preciso recordar que a evangelização sempre esteve unida à promoção humana e à autêntica libertação cristã", disse o Papa.
A seguir ele afirma que "os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e da violência. Para estes povos, seus pastores têm de fomentar uma cultura de vida que permita, como dizia meu predecessor Paulo VI, 'passar da miséria à posse do necessário'", disse citando a conhecida passagem de Populorum Progressio, que "convida todos a superar as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças de acesso aos bens".
Neste contexto que fala da Eucaristia, que permite descobrir Cristo como "o Vivo que caminha a nosso lado e nos mostra o sentido dos acontecimentos, da dor e da morte, da alegria e da festa". "O encontro com Cristo na Eucaristia suscita o compromisso da evangelização e o impulso à solidariedade; desperta no cristão o forte desejo de anunciar o Evangelho e de testemunhá-lo na sociedade para que esta seja mais justa e humana". Como vemos, é esta integralidade a que constitui a vida cristã para Bento XVI, e não se pode portanto reduzir a tarefa da Igreja somente ao "religioso" em sentido estreito; aqueles que agem dessa forma não são fiéis à doutrina católica.
Vem então uma pergunta central: como a Igreja pode contribuir para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos, e responder ao grande desafio da probreza e da miséria? A questão fundamental sobre o modo como a Igreja, iluminada pela fé em Cristo, deve reagir a todos estes desafios, concerne a nós todos". Como vemos, não está em questão se a Igreja deve ou não contribuir, mas sim como deve faze-lo. Não se pode responder a esta questão apenas com atividades de ajuda ou assistência, pois, como disse Bento XVI, "neste contexto é inevitável falar do problemas das estruturas, sobretudo das que criam injustiça. Na verdade, as estruturas justas são uma condição sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade".
Aqui vem à tona uma posição muito importante que citamos extensamente: "tanto o Capitalismo quanto o Marxismo prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas... E esta promessa ideológica se mostrou falsa. Os fatos o põem de manifesto. O sistema marxista, onde governou, não só deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, como também uma dolorosa opressão das almas. E o mesmo vemos também no Ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis miragens de felicidade".
Logo insiste que estas estruturas justas requerem um consenso na sociedade que só por partir de valores éticos e que a reforce. Retornando a um de seus temas preferidos, disse que "onde Deus está ausente - o Deus de rosto humano, Jesus Cristo - estes valores não se mostram com toda a sua força, nem se produz um consenso sobre eles".
Acrescenta ricas observações sobre o modo de usar racionalmente este consenso sobre a "o bom exercício dos leigos - inclusive com a pluralidade das posições políticas - essencial na tradição cristã autêntica", e explica que "o trabalho político não é de competência imediata da Igreja". "A Igreja é advogada da Justiça e dos pobres, precisamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses partidários. Apenas sendo independente por mostrar os grandes critérios e os valores inderrogáveis, orientar as consciências e oferecer uma segunda opção de vida que vá além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da Justiça e da Verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste setor". E menciona a responsabilidade dos leigos na vida pública: "devem estar presentes na formação dos consensos necessários e na oposição contra as injustiças", disse, conclamando mais vozes e iniciativas de leigos católicos no âmbito político, comunicativo e universitário.
Fonte: Informativo CRP, CNR, IBC

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