"A opção pelos pobres está implícita na fé cristã naquela em que Deus se fez pobre por nós, para que nós enriquecêssemos com sua pobreza", disse o Papa aos bispos da América Latina e do Caribe. A afirmação não veio no parágrafo destinado aos problemas sociais do continente, ma sim naquele que trata da primazia da fé em Cristo. Dessa forma, ele não só respaldou o caminho da Igreja na América Latina, como também lhe conferiu o status teológico correspondente.
O discurso é de uma enorme riqueza e transcendência. Não encontramos palavras de condenação à reflexão teológica do continente, esperada por alguns, mas sim uma sólida reflexão e um chamado a responder aos desafios atuais a fé na América Latina, que são dois: "o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica de seus povos".
Dando continuidade as cinco conferências, Bento XVI constata que desde São Domingo, em 1992, muitas coisas mudaram: a globalização, em certos aspectos positiva, mas com o risco dos grandes monopólios e da conversão do lucro no valor supremo;"a evolução em direção à democracia e o perigo do autoritarismo, a economia liberal que causa que "sigam aumentando os setores sociais que se vêem postos à prova cada vez mais a uma enorme pobreza ou mesmo perdendo seus bens naturais". Também se refere à situação da fé mais madura em muitos leigos, mas debilitada na sociedade. Tudo isto exige "uma renovação e uma revitalização" da fé em Cristo para "viver de maneira responsável e alegre de fé e irradia-la ao próprio ambiente.
O trecho seguinte do discurso está dedicado à fé em Cristo, que não é "uma fuga em direção ao intimismo, ao individualismo religioso", já que todos os sistemas religiosos que colocam Deus isolado fracassam na solução dos problemas sociais, políticos e econômicos. Por meio te suas palavras sobre a opção pelos pobres, o Papa trata de como conhecer Cristo: a resposta é a "rocha da Palavra de Deus", e a catequese, que deve intensificar-se, que compreende também uma "catequese social" que forme a doutrina social da Igreja. "É preciso recordar que a evangelização sempre esteve unida à promoção humana e à autêntica libertação cristã", disse o Papa.
A seguir ele afirma que "os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e da violência. Para estes povos, seus pastores têm de fomentar uma cultura de vida que permita, como dizia meu predecessor Paulo VI, 'passar da miséria à posse do necessário'", disse citando a conhecida passagem de Populorum Progressio, que "convida todos a superar as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças de acesso aos bens".
Neste contexto que fala da Eucaristia, que permite descobrir Cristo como "o Vivo que caminha a nosso lado e nos mostra o sentido dos acontecimentos, da dor e da morte, da alegria e da festa". "O encontro com Cristo na Eucaristia suscita o compromisso da evangelização e o impulso à solidariedade; desperta no cristão o forte desejo de anunciar o Evangelho e de testemunhá-lo na sociedade para que esta seja mais justa e humana". Como vemos, é esta integralidade a que constitui a vida cristã para Bento XVI, e não se pode portanto reduzir a tarefa da Igreja somente ao "religioso" em sentido estreito; aqueles que agem dessa forma não são fiéis à doutrina católica.
Vem então uma pergunta central: como a Igreja pode contribuir para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos, e responder ao grande desafio da probreza e da miséria? A questão fundamental sobre o modo como a Igreja, iluminada pela fé em Cristo, deve reagir a todos estes desafios, concerne a nós todos". Como vemos, não está em questão se a Igreja deve ou não contribuir, mas sim como deve faze-lo. Não se pode responder a esta questão apenas com atividades de ajuda ou assistência, pois, como disse Bento XVI, "neste contexto é inevitável falar do problemas das estruturas, sobretudo das que criam injustiça. Na verdade, as estruturas justas são uma condição sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade".
Aqui vem à tona uma posição muito importante que citamos extensamente: "tanto o Capitalismo quanto o Marxismo prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas... E esta promessa ideológica se mostrou falsa. Os fatos o põem de manifesto. O sistema marxista, onde governou, não só deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, como também uma dolorosa opressão das almas. E o mesmo vemos também no Ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis miragens de felicidade".
Logo insiste que estas estruturas justas requerem um consenso na sociedade que só por partir de valores éticos e que a reforce. Retornando a um de seus temas preferidos, disse que "onde Deus está ausente - o Deus de rosto humano, Jesus Cristo - estes valores não se mostram com toda a sua força, nem se produz um consenso sobre eles".
Acrescenta ricas observações sobre o modo de usar racionalmente este consenso sobre a "o bom exercício dos leigos - inclusive com a pluralidade das posições políticas - essencial na tradição cristã autêntica", e explica que "o trabalho político não é de competência imediata da Igreja". "A Igreja é advogada da Justiça e dos pobres, precisamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses partidários. Apenas sendo independente por mostrar os grandes critérios e os valores inderrogáveis, orientar as consciências e oferecer uma segunda opção de vida que vá além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da Justiça e da Verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste setor". E menciona a responsabilidade dos leigos na vida pública: "devem estar presentes na formação dos consensos necessários e na oposição contra as injustiças", disse, conclamando mais vozes e iniciativas de leigos católicos no âmbito político, comunicativo e universitário.
O discurso é de uma enorme riqueza e transcendência. Não encontramos palavras de condenação à reflexão teológica do continente, esperada por alguns, mas sim uma sólida reflexão e um chamado a responder aos desafios atuais a fé na América Latina, que são dois: "o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica de seus povos".
Dando continuidade as cinco conferências, Bento XVI constata que desde São Domingo, em 1992, muitas coisas mudaram: a globalização, em certos aspectos positiva, mas com o risco dos grandes monopólios e da conversão do lucro no valor supremo;"a evolução em direção à democracia e o perigo do autoritarismo, a economia liberal que causa que "sigam aumentando os setores sociais que se vêem postos à prova cada vez mais a uma enorme pobreza ou mesmo perdendo seus bens naturais". Também se refere à situação da fé mais madura em muitos leigos, mas debilitada na sociedade. Tudo isto exige "uma renovação e uma revitalização" da fé em Cristo para "viver de maneira responsável e alegre de fé e irradia-la ao próprio ambiente.
O trecho seguinte do discurso está dedicado à fé em Cristo, que não é "uma fuga em direção ao intimismo, ao individualismo religioso", já que todos os sistemas religiosos que colocam Deus isolado fracassam na solução dos problemas sociais, políticos e econômicos. Por meio te suas palavras sobre a opção pelos pobres, o Papa trata de como conhecer Cristo: a resposta é a "rocha da Palavra de Deus", e a catequese, que deve intensificar-se, que compreende também uma "catequese social" que forme a doutrina social da Igreja. "É preciso recordar que a evangelização sempre esteve unida à promoção humana e à autêntica libertação cristã", disse o Papa.
A seguir ele afirma que "os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e da violência. Para estes povos, seus pastores têm de fomentar uma cultura de vida que permita, como dizia meu predecessor Paulo VI, 'passar da miséria à posse do necessário'", disse citando a conhecida passagem de Populorum Progressio, que "convida todos a superar as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças de acesso aos bens".
Neste contexto que fala da Eucaristia, que permite descobrir Cristo como "o Vivo que caminha a nosso lado e nos mostra o sentido dos acontecimentos, da dor e da morte, da alegria e da festa". "O encontro com Cristo na Eucaristia suscita o compromisso da evangelização e o impulso à solidariedade; desperta no cristão o forte desejo de anunciar o Evangelho e de testemunhá-lo na sociedade para que esta seja mais justa e humana". Como vemos, é esta integralidade a que constitui a vida cristã para Bento XVI, e não se pode portanto reduzir a tarefa da Igreja somente ao "religioso" em sentido estreito; aqueles que agem dessa forma não são fiéis à doutrina católica.
Vem então uma pergunta central: como a Igreja pode contribuir para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos, e responder ao grande desafio da probreza e da miséria? A questão fundamental sobre o modo como a Igreja, iluminada pela fé em Cristo, deve reagir a todos estes desafios, concerne a nós todos". Como vemos, não está em questão se a Igreja deve ou não contribuir, mas sim como deve faze-lo. Não se pode responder a esta questão apenas com atividades de ajuda ou assistência, pois, como disse Bento XVI, "neste contexto é inevitável falar do problemas das estruturas, sobretudo das que criam injustiça. Na verdade, as estruturas justas são uma condição sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade".
Aqui vem à tona uma posição muito importante que citamos extensamente: "tanto o Capitalismo quanto o Marxismo prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas... E esta promessa ideológica se mostrou falsa. Os fatos o põem de manifesto. O sistema marxista, onde governou, não só deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, como também uma dolorosa opressão das almas. E o mesmo vemos também no Ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis miragens de felicidade".
Logo insiste que estas estruturas justas requerem um consenso na sociedade que só por partir de valores éticos e que a reforce. Retornando a um de seus temas preferidos, disse que "onde Deus está ausente - o Deus de rosto humano, Jesus Cristo - estes valores não se mostram com toda a sua força, nem se produz um consenso sobre eles".
Acrescenta ricas observações sobre o modo de usar racionalmente este consenso sobre a "o bom exercício dos leigos - inclusive com a pluralidade das posições políticas - essencial na tradição cristã autêntica", e explica que "o trabalho político não é de competência imediata da Igreja". "A Igreja é advogada da Justiça e dos pobres, precisamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses partidários. Apenas sendo independente por mostrar os grandes critérios e os valores inderrogáveis, orientar as consciências e oferecer uma segunda opção de vida que vá além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da Justiça e da Verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste setor". E menciona a responsabilidade dos leigos na vida pública: "devem estar presentes na formação dos consensos necessários e na oposição contra as injustiças", disse, conclamando mais vozes e iniciativas de leigos católicos no âmbito político, comunicativo e universitário.
Fonte: Informativo CRP, CNR, IBC
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