22 de mai. de 2007

Carta ao povo cristão da América Latina e do Caribe

Caras irmãs e irmãos do povo de Deus

Por ocasião da V Conferência Episcopal Latino-americana e Caribenha, nós, participantes do Seminário Latino-americano de Teologia, organizado pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil, queremos comunicar a nossa reflexão em torno do tema central: “Discípulos/as e missionários/as de Jesus Cristo para que nossos povos nele tenham vida”. Somos 250 pessoas, vindas de vários estados do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, México, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Guatemala, El Salvador, Haiti, Nicarágua, Canadá, França e Itália, além dos participantes de inúmeras salas virtuais.

Dentre os muitos pontos aprofundados, queremos destacar alguns aspectos que julgamos importantes para a caminhada da Igreja latino-americana e caribenha.

Sentimo-nos interpelados pelas diversas formas de agressão à vida humana, a todas as formas de vida e à Terra, nossa mãe: o aprofundamento da pobreza e da desigualdade social; o clima de violência que atinge particularmente a população mais jovem, as mulheres e as crianças; a destruição dos povos e da cultura negra e indígena.

A humanidade experimenta uma crise generalizada, que atinge a família, a Igreja, as relações sociais e econômicas, a organização política e o conjunto de valores construídos a longo do tempo. Trata-se de uma crise sistêmica e paradigmática, que rompe o equilíbrio nas relações entre os seres humanos e destes com toda a Criação.

Na fidelidade ao seguimento de Cristo, aos seu profetismo e pedagogia, não podemos calar diante dos gritos e clamores dos povos latino-americanos e caribenhos, causados por esse processo histórico de exploração.

Nada disso é natural ou acontece por acaso. O neoliberalismo agravou o endividamento externo e interno e multiplicou a dura experiência da miséria e da exclusão social. Além disso, aprofundou o grau de dependência dos nossos povos na forma de um neocolonialismo que se expressa especialmente em relações de livre comércio profundamente desiguais e geradoras de exploração em todos os níveis.

Porém, não podemos deixar de apontar os sinais dos tempos que tornam visível para os dias de hoje a Ressurreição de Jesus: o aumento da consciência ecológica; as experiências de democracia participativa e expressões de soberania popular; a criatividade nas experiências de economia solidária e comércio justo; a multiplicação e o fortalecimento de muitos movimentos sociais. Expressão importante desse movimento de resistência e ressurreição de nossos povos tem sido a realização dos sucessivos fóruns sociais regionais e mundiais.

A Igreja, enquanto participante da historia, também passa por situação de profunda crise: diminuição significativa do número de fiéis; dicotomia entre fé e vida; ausência de renovação da linguagem e símbolos religiosos; permanência de uma estrutura piramidal rígida, que leva ao não reconhecimento da missão e do sacerdócio comum de todo o povo de Deus; a não valorização do laicato, e de modo especial das mulheres, como sujeito eclesial e sua participação nos espaços de decisão.

Diante de tudo isso, sentimo-nos desafiados a:

· reconhecer o protagonismo dos empobrecidos no processo de evangelização e na construção de uma nova sociedade, baseada na justiça e solidariedade;

· assumir com firmeza a opção pelos pobres, afirmando-a como irreversível e irrenunciável, como um imperativo do seguimento de Jesus e de fidelidade ao Deus da Justiça;

· construir novas relações com equidade de gênero;

· reconhecer a presença de Deus nas culturas, nos povos, nas religiões, vivenciar processos de inculturaçao e fomentar espaços de diálogo intercultural e inter-religioso;

· criar estruturas adequadas para o trabalho de evangelização no mundo urbano;

· reconhecer a riqueza da diversidade e a pluralidade, cultivando a alteridade;

· promover uma nova cultura do trabalho a partir da crise da sociedade do emprego;

· estimular a presença de bispos e presbíteros diretamente nas experiências libertadoras em suas paróquias e dioceses.

Assim, convidamos a todos os irmãos e irmãs a assumir conosco esses compromissos:

· aprofundar a experiência de vida cristã inspirada em Jesus de Nazaré;

· construir uma igreja que seja rede de comunidades que sejam expressões vivas do povo de Deus; que reafirma as estruturas próprias das igrejas latino-americanas e caribenhas, historicamente fundadas no tripé: CEBs, pastorais e conferências episcopais; que dialoga com as realidades do tempo de hoje; que fermenta as ações humanas que vão construindo uma sociedade nova – um outro mundo já possível, em que possamos experimentar a globalização da solidariedade -, tecendo parcerias com movimentos sociais;

· aprofundar a teologia da libertação como inspiração que nasce da rica experiência eclesial e da profunda religiosidade dos povos latino-americanos, e que alimenta a fé, renova sua esperança e que torna mais libertadora a prática do amor;

· assumir uma ética da vida em âmbito pessoal e social;

· promover espaços de evangelização que possibilitem aos jovens uma adesão livre e amadurecida ao Evangelho de Jesus;

· manter-se livre na relação com as estruturas necessárias para a evangelização, sabendo que devem ser reformadas permanentemente;

· fomentar a promoção de um fórum social cristão, com o objetivo de refletir sobre a transição de época e os diversos cenários eclesiais face aos desafios político-sociais;

· incentivar uma maior integração das pastorais com os movimentos, enquanto crescimento da consciência social e libertadora da igreja latino-americana e caribenha como caminhada de todo o povo de Deus;

· aprofundar a reflexão sobre o uso das novas tecnologias a favor da vida, bem como a reflexão crítica acessível e prática das conseqüências do sistema de globalização capitalista.

Pindamonhangaba, São Paulo, 20 de maio de 2007.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como voces viajam... Peçam o Espirito Santo e ele lhes ensinará que o amor aos pobres hoje é prioridade sim, mas o amor a Deus vem sempre em primeiro lugar. Jesus disse; Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e o mais vos será acrescentado.João Paulo II na enciclica Redemptorius Missio sobre o Reino de Deus assim declara n° 17. Hoje fala-se muito do Reino, mas nem sempre em consonancia com o sentir da Igreja. De facto, existem concepções de salvação e missão que podem ser designadas « antropocêntricas », no sentido redutivo da palavra, por se concentrarem nas necessidades terrenas do homem. Nesta perspectiva, o Reino passa a ser uma realidade totalmente humanizada e secularizada, onde o que conta são os programas e as lutas para a libertação socio-económica, política e cultural, mas sempre num horizonte fechado ao transcendente. Sem negar que, a este nível, também existem valores a promover, todavia estas concepções permanecem nos limites de um reino do homem, truncado nas suas mais autênticas e profundas dimensões, espelhando-se facilmente numa das ideologias de progresso puramente terreno. O Reino de Deus, pelo contrário, « não é deste mundo (...) não é daqui debaixo » (Jo 18, 36).Entendeu??? Ou voces sabem mais que João Paulo II ? Abram essa mente , tirem as vendas dos olhos, não deixem o capeta lhes cegar... Ah, esqueci que o capeta colocou em vossas cabeças que ele não existe... ele é muito esperto, temos que admitir, mas o poder só tem Nosso Senhor Jesus Cristo,o enviado do Pai, Jesus Cristo homem e Deus. Que O Espirito Santo Lhe convença... Amém

Anônimo disse...

Viajam com o dinheirinho suado das esmolas do povo, principalmnete aquelas das Campanhas da Fraternidade, e vão ai se reunir para criar um Cisma na nossa Igreja. Parem de viajar e gastar o dinheiro das esmolas do povo...